Agressores sexuais devem ser vigiados

Investigador em ciências forenses rejeita a castração química de condenados por delitos sexuais, mas defende um acompanhamento pós-reclusão. Porque a reincidência ronda os 20%.
Agressores sexuais condenados devem ser alvo de monitorização pós-reclusão, mas não sujeitos a castração química. "Isso é estereotipar a agressão sexual, limitando-a à violação e penetração. Há muita agressão sexual sem penetração, em geral vitimando menores", diz Armando Coutinho Pereira. O investigador em ciências forenses, que falava ontem, no Porto, durante o IV_Congresso de Criminologia, desenvolveu um estudo sobre agressores sexuais e concluiu que a taxa de reincidência está na casa dos 20%.
Na opinião deste investigador, a monitorização [que poderia incluir avisos à comunidade onde o agressor se insere] completaria o programa de cariz cognitivo-comportamental, que desde Novembro de 2008 está a ser desenvolvido pelo especialista Rui Abrunhosa Gonçalves (um psicólogo da Justiça, que estuda vítimas e agressores), para avaliação e acompanhamento dos agressores sexuais, no sentido de se perceber as probabilidades de reincidirem. "Tem que haver especialização não só no acompanhamento das vítimas mas também um tratamento do agressor", defendeu Armando Coutinho Pereira.
O seu estudo foi desenvolvido a partir de entrevistas a 116 condenados por crimes de natureza sexual em quatro estabelecimentos prisionais do Grande Porto, todos do sexo masculino, com idades entre os 18 e os 72 anos. Em 42,2% dos casos, o crime cometido foi o de violação, mas a maior percentagem de situações (46,5%) está relacionada com abuso sexual de menores, que ocorreu, em 55,2% dos episódios, fora do contexto familiar - mas as vítimas são geralmente pessoas próximas, conhecidos ou vizinhos (79,1%). Ainda sobre as vítimas, têm uma média etária de 7,9 anos e eram maioritariamente do sexo feminino (82%).
"São agressores, que têm um conceito de mulher e de sexualidade muito redutor", refere Armando Coutinho Pereira, sendo que 55,2% dos inquiridos não tinham antecedentes criminais. A grande maioria (72,4%) é consumidora de álcool ou drogas. Uns 48% dos inquiridos negaram por completo a prática dos crimes, mesmo depois de iniciarem o cumprimento da pena. "A maior parte distorce a realidade dos factos", acrescenta o investigador.
Noticia Diário de Noticias

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